quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Amarelou

A senha do meu corpo
Foi a tua digital
O segredo da minh'alma
é bem mais original.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Prá começo de conversa

A idéia é compartilhar o poético de cada dia, nascido do encontro
diário com as pessoas com a quais trabalho, em conversas de
versos e prosas!
Tecer uma rede em palavras que dê suporte e sentido a cada
trecho do nosso existir...
Que se estabeleça uma relação de amor com cada gesto, que se
extraia beleza de cada encontro...
É a tentativa de descer nas ondas desse imenso marzão de possibilidades!
Nos sentirmos mais vivos, mais emocionados e corajosos com a
impossivel tarefa de viver em segurança, seja essa uma linda e
tentadora ilusão que se traveste das mais sedutoras aparições.
Bom passeio prá nós!
Espero vocês, em prosa, verso, cartinhas e bilhetinhos...
Estou tentando contrabandear a voz falada nos poemas, ainda não
rola agora... mas vai rolar, pular e pipocar!!!!!!!
Passem a prancha com o endereço do blog aos amigos com quem
podemos tecer redes de apóio e amparo!

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

o amor é instrução ad continuum

O amor é instrução ad continuum
Complexa, criativa, mutante
Vai rolando a cada instante
Andando
Batizei
Amor ando
Anda pra trás, pros lados, pra frente
Imprevisível
Sempre.

Christiane Ganzo.
23 de agosto de 2007.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Potência e Poder

Ser potente, poético, humano,
Ser em expansão, em felicidade.
Não infelicidade, que já é encolhimento, contra’mão
Consigo é que não.

Os encontros são possibilidades
De vir a ser em expansão ou contração.
São escolhas nossas.


De paixões em paixões
De paixões em ações
De tristezas em alegrias
Vamos nos tornando sujeitos de nossas escolhas,
De passivos à ativos vamos expandindo nossas forças.

Sofrer é ter paixões exclusivas, de uma intensidade tal que não permite a multiplicidade da vida.
A saúde implica numa relação extensa com a vida, interna e externa; muitas paixões, muitas ações!

Todo encontro que implicar em contração está a serviço do poder, da tirania e da depressão.
Todo encontro que nos levar a um despertar, um acordar de si, promove um acordamento, um estar de acordo consigo, uma consonância, um cômodo, um estado de excitação, borbulhamento e felicidade.
Uma exuberância em ser si mesmo, uma vasta integridade.
Essa é nossa busca.


Christiane Ganzo.
23 de agosto de 07.
Amor(ando)

O amorando
Contigo anda
Abriga minha'lma
Gosto e cheiro
Só(de)nós
Frouxos
Convidando ao movimento
Permeáveis
Respirando as essências

Christiane Ganzo.
26 de julho de 2007.
Adota-se uma paternidade consciente


Ser pai com o pau não deve ser tão difícil
Ser pai a pau também não
Pai com a cabeça de baixo
De pernas pro alto,
A qualquer modo
Talvez até seja divertido
Pai Mac’donald
De dia certo e encontro duvidoso

Já a paternidade escolhida
Desejada
Percebida
Reconhecida
Construída

Isso é coisa para se alargar e alegrar a alma.

Nossos meninos,
Com calma, força e resistência, adotarão seus filhos, em dose extra de doçura e leveza.

A paternidade é um movimento lento, diário e extra-o-ordinário.
Com requintes de presença em espírito.
Requer a assinatura e o cpf
Dos dois.

Os pais biológicos talvez sejam os que mais trabalho terão nessa construção,
Muitas vezes confusos e iludidos com os laços de sangue descuidam-se das translúcidas teias do amor.
Capazes de suportar muito peso e às vezes muitas ausências,
O amor requisita atenção.
Pousar e repousar-se em descanso e relaxação
Criar e recriar a espontaneidade do direito de ser si mesmo
Não há atrevimento maior do que dar-se a conhecer.
Única tecnologia do amor:
Oferecer-se em tornar-se público
E correr o risco, sempre
De não agradar.

Christiane Ganzo.
Dez de agosto de 07
Je m’pelle Christiane

Uma e meia.
Três e meia.
Desperto puxada pelos cabelos por esses homens.
Por esses nomes
Platão; Espinoza; Sponville; Ganzo ou Tombini.
Nem Tombini nem Tombada
Je m’pelle Louvre
Livre em construção
Revolução constante na pele
De dentro e de fora
Percorro todas as vilosidades
Viscosidades úmidas e engendrativas
Potentes e expansivas
Je m’pelle
Minha solução
Recolhida e solitária
Je m’pelle
Umaa forma natural de atender e relacionar-me,
Reconhecer-me.
Je m’pelle
Amor em abrupta extensão.

Christiane Ganzo.
Nome outorgado e por mim batizado
Filiação escolhida.
Reconhecida em cartório.
05 de agosto de 2007.
Fome sem apetite

Tua falta põem em marcha um desejo anoréxico
Desejo de não te ter por desejo
Fome sem ar que dói apertada
Apetite de nada
Desassossego
Mar grosso salgado, num vidrinho de perfume apertado, que pinga espesso de amor.

Julho de 2007
Buen dia Bertha,

Minha grande beatitude é ser rizoma*.
Por mais que me amputem,
Não me escutem
Ou se poupem,
Eu não.
Eu me ofereço e floresço
Vingo
Feliz
Por mais que não me queiram, não se importem, ou me importem, e até o contrário, me exportem.
Não ouça eu, bom dia ou boa noite, de outra voz que não a minha; não tenha beijo ou abraço que não seja meu a mim.
Eu me quero, me importo
Me regozijo em mim
Me apoio em diminutos pontos de contato com a realidade.
Sou um híbrido de centopéia e saci-pererê
Cresço por todos os lados
Respiro pela pele
Me alimento da existência
Levo na’lma
Lençóis frenéticos de amor para todos os tempos.

Christiane Ganzo.

À Bertha Ganzo, que se casou em primeira núpcia aos 81 anos com um de seus primeiros amores da alma, e que existiu e resistiu sempre com um vigor a me brilhar os olhos e surpreender o coração.
Agorinha é domingo, e passeia em meus olhos e no rio uma embarcação amarela, e já outra, e muitas.
É final de julho.
2007 se apresenta sem fim, e se desdobra sobre si, numa finitude precisa e colorida, um presente desse deus panteísta, que nos acarinha por todos capilares de seiva e vida.

*Rizoma é aquela plantinha que não tem raiz nem caule unidirecional. Típicas das areias das praias, se apóiam sobre as escaldantes areias, e se espalham em todas as direções...
Amor em pelo


Pelo vivo
Pelo avesso
Verso
Em pele
Amor pelando
A pleno

Christiane Ganzo.
26 de julho de 2007.
Feitiço de dono

Coração
Extra-pulou-me
Deu(-se à) cria
Late e treme nas pernas minhas
Reclama tua voz, mão e maestria
Desenha teu contorno e o dorso se inclina à procura tua
Sinto meu corpo
De alça vazia.

Christiane Ganzo,
Data: puta tesão!

Espelho meu

Espelho, espelho meu
Diga-me que é mais franzida do que eu?
Sua expectativa de seriedade, gravidade e confiabilidade.
Elas lhe conferem essa cara de pau!Esse semblante de profissional.
Essa pretensão celestial.
Olho meu rosto na tela, surpreendo-me para alegria minha do quanto não estou de acordo com ela, do quanto já me sou outra.
Sorrio para a face minha e me regozijo com os dias.
Christiane Ganzo.
20 de julho de 2007.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Cor(à)mão

Espalmo a mão
Uma palheta de cores
Num gole os comprimidinhos se espalham e descem o tobogã
escuro,
Turbinados pela água, em cambalhotas, se disputam em vaidades.
Quem acalma mais
Quem não me treme tanto a mão
Quem resseca menos minha boca
Quem faz cair menos o cabelo
Pisco de canto ao espelho
Pincelo a confiança em aquarelar toda a existência.

As ruelas de Lorência

Como uma luva recém descalça e ainda quente,
Minha terra movimenta-se em relevos acidentados.
Tua música se entoa nos muros, pelas frestas das pedras, nas calçadas sem centro.
Em toda a manhã, o mel dos ombros.
São ritmos aveludados e antigos, conversas que ficaram por ali
enquanto passeavam.

O zelador é demitido

Demito o zelador, o cobrador, o controlador

Vão me processar?

Indenizar, isso sim!

Vou me divertir, e muito!

Anos e anos de intimidação...

“Isso não fica bem...

Poderia ter feito melhor...

Vai arriscar?

Veja bem onde isso vai dar...”

Contração e encolhimento.

O impostor de carteira assinada, contrato de letra miúda e fundo de garantia!

Vão todos pro saco!

Vou viver sem consultoria,

Sem jurisdição, sem juiz, nem promotor...

Sem a minha acusação!

Vou fazer de improviso

Em completa inovação!

Brisa fresca

A brisa friazinha entra de gole no quarto.
Lambe as paredes.
Movimenta suavemente os panos e papéis, remexe os pensamentos.
Faz uma onda, que nem lençol no ar.
Borbulha a poeira e põem tudo em pele eriçada de pêssego...
Ainda de olho fechado acarinho as idéias por entre os dedos e cabelos,
Passo a mão em veludo e vou amanhando a espera do dia.
O povo das presenças mentais é uma turma indisciplinadíssima.
Transbordam da cachola e vazam pela cama, escorrem pelo chão,
algumas até se marolam pelas paredes, as mais impacientes se grudam no teto feito bolhas...
Saem cada mandação para um lado, como se espreitassem que o
corpinho se multiplicasse servilmente às suas ordens.
Olho divertidamente para as afoitas...
Querem passear?
À vontade...
Vou só virar de lado.
Espreguiçar o corpo ainda manhoso, sentir as dobras das
cobertas, alisar os lençóis com as pernas...e sentir o ar borbulhando.
Quanto a vocês?
O de sempre...
Arejem-se, conversem entre si, façam amizade, ou se disputem se quiserem.
Vamos ver que bolhas resistem à força da gravidade de serem
verdades.

Olhos no fogo

Concentro os olhos no fogo.
Nenhum atropelo.
Respiro uma respiração por vez.
Brinco com o ar, de elevador, com carinho, em baixa rotação.
Inspiro largo e farto, a barriga infla e sobe...
Expiro longo, esvaziando o balão até chegar ao vale e o elevador
escorrega gracioso.
Olho e ouço o fogo.
Ele se lambe, se contorce, se abraça, se avoluma e se consome.
Crepita, geme, secreta, se pinga e sussurra.
Assim como eu, engole suas labaredas, dobra-se sobre si,
Tomo eu conta de mim.
O tambor do meu coração bate. Late!
Essa irrupção, esse balé que em movimento se chamusca,
prolifera e exaure, são como o incêndio que me habita e alimenta.
O crepitar das palavras, idéias e sensações, entremeiam-se,
encostam-se em seus contrários
e já não se opõem.
Compõem.
Harmonizam-se simultaneamente, em nada se anulam.
Resultam num tecido em rede, onde cada ponto é partida e
sustento de outro.
Essa malha de fagulhas forjadas no fogo, tem a resistência da
existência.
Abraça meu corpo, que nesse aconchego se acolhe e volta a
encher-se de possibilidades.
Tudo já é possível... tudo cabe e já vai passar...
Aproveito então.
Me reconforto e comemoro as chegadas e partidas de cada
respiração, com seus elevadores incandescentes de carinhos.

Descalço as mãos

Descalço as mãos dos anéis para melhor te receber e acompanhar.
Meus dedos deslizam tuas peles afora...
Para longe dos vincos e arranhões, rastreio uma cartografia
inusitada de amante.

Adentro tuas não cicatrizes,
Arrisco não levantar tuas memórias,
Insisto na criação de um novo repertório.
Te assombras com tua respiração,
Te surpreendes a cada inovação.

Meu carinho é despido de todo traje passeio,
Meu amor veste peles descalças,
Te recebe num cotidiano simples de bocejo e aconchego!
É um espreguiçar-se em teu corpo,
Celebrando cada gesto e trecho.

Meu amor não é de domingo,
Nem de recreio,
É de pijama amanhecido,
Fundo de quintal e dia cheio!

Para acompanhar-se

O poema falado tem um sentido de comunicar coisas essenciais,
trabalhar temas emocionais importantes de uma outra maneira.
A palavra falada, a palavra ouvida cobra um sentido interno no sujeito que vai ecoando e vai permitindo com que a pessoa vá
elaborando e conhecendo e tomando contato com o seu universo
interno.
É por isso que a voz, o ritmo, a altura, o estridente, o aveludado,
o cenário emocional da voz penetra na alma e vai desdobrando-
se dentro do sujeito. Não é necessariamente importante o que
está sendo dito, mas importante para abrir, para que a pessoa
fique se ouvindo, naquele cenário emocional. É um cenário para andar.

Christiane Ganzo

24 de janeiro de 2007

Chega de versinhos redondinhos...

Então, está bem - de versinhos você não gosta?...
Droga de riminhas que perseguem meu cérebro! Sempre me cobrando concordâncias, ritmos e simetrias!
Nunca fui assim mesmo... nem entendi como é que me habitaram assim.
Amanheci cuspindo letrinhas redondinhas como... bom, deixa pra lá, que eu sou toda redonda mesmo.
Só o jeito como piso no piso é que não! É reto e duro. Retumba.
Nem é bonito, nem sensual nem coisa nenhuma... mas é forte! Com ele já fui tão longe...
E agora tem esta, aprender a ser suave sem redondos.
Dizem que sou. Acredito, porque... depois que piso forte, me sobe uma pista em curvas! Sinuosas! Abertas! De perigo e tudo, eu sei. Vai daí que eu devia caminhar - pelas ruas, esteiras, passeios...
Cansei de caminhar pras curvas ficarem fechadas, ousadas! É pista em curvas abertas e, por enquanto, com pouca aderência, tipo lisas e escorregadias. Mais dez anos ou vinte - ou menos, muito menos - vão ficar tipo canyon, profundas e rugosas.
Vamos transformando nossas geografias em arqueologias, e hora dessas amanheço em prosa 'fossilizada'. Vamos todos nos fossilizando em canyons verticais, sulcados e rugosos. Com sorte, cobertos de relvas miúdas e aveludadas, que cheiram a novidades esmagadas pelos pisares de nossas almas irreverentemente joviais e brejeiras!
É, sim!
Não vou renunciar ao alegre, gaiato, virando latas.
Velhice, tudo bem - rugas, sulcos, aderências, ok! Mas pesares, ressentimentos e gravidades? Ah, não, não e não! Ponto final.

Suavidade, vou atrás de ti! Feito o demônio da Tasmânia, hei de te
encontrar! Quando te achar, vou me amalgamar em ti, acomodar minha cabeça e mãos na tua seda e vou beber o teu cheiro. Tua voz, suponho, será clara: nem alta, nem baixa. Boa.Como tudo o que é bom na vida.
Boa.
Frase de palavra em solitário.

Christiane Ganzo
Sem lua.
Primeiro sábado de um julho muito irreverentemente veranil.

Ausência

Na materialidade de tua ausência, me intoxico de lembranças.Paralisada pela intensidade de minha cabeça, respiro com dificuldade.Sobra sempre um ar viscoso e denso de recordações.Cada imagem drena minha energia, e já não estou mais aqui nem à disposição.Minha inclinação ao mundo é um pêndulo colado à parede de um dentro cujo interesse já não me faz bem.

Christiane Ganzo

A ausência de algo é capaz de providenciar sua presença de modo tão ou mais intenso.

Inverno de 2006, a bordo de mim, num porto alegre.

As moças e as fitas

As moças não resistem à dança das fitas.Basta um pau qualquer se aproximar,lá se vão as mocinhascobri-lo de fitinhas...Enrola daqui...Aperta acolá...Transforma aqui...Cobre dali...Todo... todo... bem tapado,acaba mesmo engessado.Por mais torto que antes fosse,era um pau e tinha dono.Travestido pelas fitas- me pergunto: qual seu nome?
Christiane Ganzo
29 de outubro de 2003

Apetites

Declinar apetites... é tarefa desgastante...O primeiro esforço hercúleo é reconhecê-los,Depois.. descrevê-los...Mapeados, os dispomos em cartografias..Cartas-mapas que vamos consultando ao longo de todos os tempos..._”O que queres?" Lhes indagamos._“Para que o queres?”Conversando... nós e eles...vamos nos discriminando...Alguns apetites são gulosos..outros... anoréticos... alguns são tristes..outros esfusiantes...Tem apetites para todos os gostos.Alguns são como uma feira colorida e barulhenta..um mercado de pulgas..Outros, são como velórios..cheios de cheiros e palavras sussurradas.Cada pessoa deve descobrir os seus,A bem... de confeccionar sua maparia...Como nos cadernos da escola primária... cheios de colagens, palavras chaves, fotos dos bons e dos maus momentos, músicas, cheiros, declarações de amor e de desafetos, enfim... cheios de pessoalidades...Nosso livro de culinária psíquica e física é absolutamente único